PARTIDO DOS TRABALHADORES

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REGULAMENTAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL

Companheiros,

Reproduzo abaixo um ótimo texto que encontrei no blog do Paulo Henrique Amorim Conversa Afiada. Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/02/04/severino-de-pernambuco-quer-a-ley-de-medios/


Abraços,
Claudio Grassi

Boa leitura.


ISIDORO GUEDES

Sociólogo, Educador e Gestor Público


AS INCESTUOSAS RELAÇÕES ENTRE MÍDIA E PODER


Mais uma vez discorremos sobre comunicação. Agora para tratar das relações entre mídia e poder, que no Brasil são pra lá de estreitas.


Antes, gostaria de dizer que nunca acreditei em neutralidade ou imparcialidade jornalística, sobretudo na política. E por um motivo muito simples: política é algo que se faz de razão, mas também de paixão, o que não permite que sejamos isentos em qualquer análise em que nos metamos a fazer.


Não acreditar em imparcialidade não significa que não possa ser feito um jornalismo sério e decente.


Dá pra fazer isso mesmo sem a tal “isenção”? Dá sim. Basta agir com ética e honestidade. O que pode ser feito observando-se princípios de civilidade e de respeito ao contraditório ou pluralidade de opiniões.


Afinal, quando exponho um ponto de vista não posso nem devo querer que ele seja visto como verdade absoluta – não há verdades absolutas: as verdades são sempre relativas. Mesmo que defenda minhas idéias com clareza, raciocínio lógico e com capacidade de argumentação suficiente para não resvalar nos sofismas e deslealdades.


E se, por um lado, não devo impor meu ponto de vista ou visão de mundo a ninguém, por outro tenho que estar aberto para, concordando ou não, dialogar com a visão de mundo dos outros. Tenho que estar preparado para a crítica, para o embate dialético, para influenciar e ser influenciado por novos ventos, sem abrir mão de meus princípios éticos, salvo se esses vierem a se chocar com o direito a vida e com os direitos humanos, que são inegociáveis e inalienáveis – e salvo se eu vier a descobrir ou perceber que minhas crenças e valores se prestam a oprimir ou degradar esse ser humano.


Esse papo de “cerca Lourenço” na verdade é para dizer que em comunicação honestidade é fundamental. Todavia honestidade é tudo o que a grande mídia não tem tido ao longo dos últimos anos.


Na recente campanha eleitoral de 2010, que culminou na eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência da República, pudemos observar uma série de deslealdades e leviandades por parte dessa grande mídia. Não que seja um mal em si que este ou aquele órgão de imprensa tenha preferência por um candidato ou uma corrente política ou ideológica em especial. Isto ocorre no mundo todo e faz parte do jogo democrático. O que não pode é o meio de comunicação querer passar uma imagem de neutralidade e imparcialidade, mas agir de forma indecente e desleal.


De uma maneira geral a maioria esmagadora dos grandes veículos de comunicação apoiou a candidatura de José Serra (PSDB). Mas apenas o jornal O Estado de São Paulo teve a decência de assumir isso publicamente em um de seus editoriais dominicais.


Os demais, digamos assim, preferiram ficar na moita, fazendo jogo de gato e rato. No segundo turno até pensaram em esboçar com mais clareza sua opção. Mas no frigir dos ovos não tiveram coragem – ou decência – para tanto.


Essa opção da grande mídia tem uma fundamentação obviamente ideológica e mercadológica. Ideológica porque a maioria dos veículos da grande mídia se acostumou a servir como uma espécie de linha auxiliar do conservadorismo. E mercadológica, porque por extensão da opção ideológica, sempre recebeu as benesses do poder, onde as forças conservadoras e de direita sempre foram hegemônicas. Ou seja: poder econômico, poder político e mídia, no Brasil, sempre estiveram umbilicalmente ligados


Mesmo que Lula da Silva não tenha promovido nenhuma revolução social nem enfrentado frontalmente a grande mídia regulamentando a Constituição nos pontos em que ela exige democratização dos meios de comunicação, ele virou o saco de pancadas da grande imprensa em seus oito anos de mandato, afinal sempre incomodou aos políticos conservadores e a grande imprensa o fato de um ex-operário e retirante nordestino ter vencido todas as adversidades e preconceitos e chegado a Presidência da República.


E se Lula conseguiu deixar o governo como o presidente mais popular de nossa História republicana, isto tem mais a ver com o seu carisma e sua capacidade de se comunicar de maneira fácil e direta com as massas, do que com a boa vontade dos grandes grupos de comunicação, que nunca houve.

Não obstante, se os meios de comunicação são uma concessão pública, nada mais justo que sejam democratizados como prevê a Constituição cidadã de 1988. Todavia o lobby da grande imprensa costuma distorcer os fatos e satanizar as pessoas que defendem isso. Em geral dizem que essa medida representa uma “ameaça a liberdade de imprensa e de expressão” – o que não passa de chantagem barata e inverídica. Mais: acusam os que a defendem de flertarem com “ditaduras de esquerda” – ao estilo Chávez (Venezuela) ou Fidel (Cuba), abrindo caminho para o autoritarismo no país.


Nada a ver! O que se quer é que é justamente o oposto. Que a informação deixe de ficar na mão de quatro ou cinco famílias, que controlam poderosos grupos de comunicação – se arvorando no direito de “formar” (ou seria deformar?) a opinião dos brasileiros. O que se quer é que a comunicação se democratize e a informação seja livre de amarras. Isso, obviamente, contraria interesses.


Por isso enganam-se os que acreditam que a guerra foi vencida e que Davi venceu Golias. O carisma e a popularidade de Lula derrotaram a grande mídia na batalha em uma eleição. Mas essa guerra ainda está longe de terminar. E a democratização da informação ainda terá que enfrentar um longo e tortuoso caminho, cheio de obstáculos e armadilhas. Essa democratização ainda precisa ser consolidada. E para tanto outras titânicas batalhas ainda se sucederão.


P.S.: Esse polêmico tema não se esgota aqui, e em outras oportunidades voltaremos a debatê-lo.


Isidoro Guedes é sociólogo graduado pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, educador (com especialização pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e extensão pela Universidade de Brasília – UnB) e ex-secretário de Saúde do município de Goiana – PE.


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