PARTIDO DOS TRABALHADORES

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015


ATENÇÃO! A DIREITA EUROPEIA ESTÁ SE MOVENDO.
Fazendo uma atenciosa leitura do atentado do dia 07 de janeiro de 2015 em Paris, no qual dois extremistas fortemente armados invadiram a redação do semanário francês Charlie Hebdo, matando doze pessoas, entre as quais os cartunistas Wolinski, Cabu e Charb, é preciso cautela nas conclusões.
Wolinski e Cabu eram oriundos de uma geração que mudou o mundo a partir das manifestações e protestos de maio de 1968. Naquela primavera eles faziam parte do grupo de estudantes que enfrentou a polícia contra o fechamento da escola de Nanterre, cidade próxima a capital francesa, que fazia parte da Universidade de Paris. O movimento estudantil recebeu apoio do Partido Comunista Francês e da classe operária, culminando em uma greve geral em que dois terços dos trabalhadores franceses cruzaram os braços, forçando o então prestigiado presidente Charles De Gaulle a convocar eleições para amenizar a crise. Foi o grande momento em que o movimento estudantil provocou interferência na vida política nacional, inspirando gerações futuras.
Foi na geração seguinte, fortemente inspirada nos protestos de maio de 1968, que despontou Charb, conhecido nacionalmente pelo engajamento com bandeiras progressistas da França. Atuou diretamente em campanhas do Partido Comunista Francês e da Frente de Esquerda. Sempre lutou contra o racismo, usando como arma sua genialidade no traço: o cartum.
Charb dirigia o editorial do semanário Charlie Hebdo desde 2009, sendo o principal alvo dos terroristas, inclusive no atentado de 2 de novembro de 2011. A ironia que destinou a símbolos do islamismo não é exclusiva, sendo também utilizada na referência a cristãos e judeus, bem como passou a fazer parte da linha editorial da publicação semanal a ridicularização do fascismo e das perversões do capitalismo. O racismo e a homofobia sempre estiveram entre seus alvos.
Sátira a extrema direita europeia sempre esteve na pauta editorial do Charlie Hebdo, provocando reação de grupos neonazistas, que historicamente são contrários à imigração para a Europa, majoritariamente oriunda de países islâmicos. Nada mais oportuno para os fascistas europeus que em um único atentado calar a voz dos cartunistas de esquerda, e ao mesmo tempo fomentar o ódio aos imigrantes muçulmanos. É o atentado perfeito. A tendência é crescerem manifestações contrárias aos imigrantes, como tem ocorrido em Dresden na Alemanha.
É no mínimo curioso os suspeitos terem se declarado estar a serviço da organização AL-Qaeda, mas serem cidadãos franceses, falando fluentemente o idioma local.
Muito tem que ser investigado, mas a atenção a toda informação divulgada deve ser redobrada. A verdade é que existe um monstro insepulto na Europa, o nazismo, que voltou a se alimentar.

Cláudio Grassi